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Jabuti Tinga O Jabuti Tinga cujo nome em Tupi-Guarani significa "O que come pouco branco" é conhecido em inglês como Yellow-Footed Tortoise, pois possui escamas amarelo-alaranjadas nas patas e na cabeça e em espanhol como tortuga terrestre de patas amarillas, motelo (no Perú), morrocoy de la selva ou morrocoy amazónico. Possui cores mais opacas e é nitidamente maior do que o jabuti piranga, atingido cerca de 70 centímetros e 80 anos de vida em média, porém podendo ultrapassar 1 metro de comprimento de carapaça e chegando a pesar quase 60 quilogramas, sendo a maior tartaruga terrestre continental das Américas. As fêmeas medem cerca de 50 a 65 centímetros e os machos 65 a 75 centímetros. Este belíssimo exemplar do sexo feminino da foto abaixo, possuía 1,10 metros de comprimento de carapaça, 58 quilos e uma estimativa de cerca de 120 anos de idade (morreu em 2006).Esta espécie é muito parecida com o Jabuti piranga (chelonoidis carbonaria, Chelonoidis carbonarius) o qual possuí coloração avermelhada das escamas das patas e da cabeça (podendo variar bastante essa coloração) e menor porte, pois o jabuti piranga comum atinge cerca de 18 kg. A diferença entre as duas espécies não é tão fácil de se distinguir quanto parece, pois existem diversas variações de cores e tamanhos nessas espécies, para uma análise mais precisa é necessário uma observação de certo detalhes que são características únicas de cada espécie:
Carapaças Escudos inguinais Escudos gular Jabuti piranga fêmea e Jabuti tinga macho Observa-se que a carapaça dos pirangas possuí laterais paralelas e o macho de tinga um formato de sino. Sua alimentação é similar ao do jabuti piranga, alimentando-se de vários tipos de folhas, flores, frutos, verduras e de proteína animal como pequenos vertebrados, minhocas, insetos e carne em menor frequência (quando em cativeiro uma vez por semana e com a mesma frequência é necessário a inclusão no cardápio de suplementos alimentares principalmente cálcio). A palavra chave na alimentação de jabutis é "diversificação", onde para animais adultos recomenda-se: - 85% da dieta deve se basear em vegetais, como: couve, rúcula, chicória, almeirão, brócolis, alface, espinafre, repolho, folhas de amora, cenoura, pepino, folhas e flores de hibiscos, beterraba, abóbora, serralha, acelga, etc. Cada animal deve apresentar preferência por determinados alimentos, porém deve-se sempre variar para garantir uma boa alimentação, deve se ter cuidado com a alface, pois pode causar diarreia. -10% da dieta deve ser a base de frutas, como: banana, abacate, maçã, pera, morango, manga, mamão, melão, tomate, figo, melancia, amora, pitanga, ameixa, nectarina, pêssego, etc. Frutas são alimentos compostos de bastante vitaminas e açucares, sendo essencial para uma boa alimentação, porém deve-se evitar excesso de algumas frutas como o mamão, pois pode provocar problemas intestinais, sendo novamente importante a variação das frutas oferecidas. -5% da dieta deve ser composta de proteína animal, como: ração para tartarugas, suplementos alimentares, carne moída crua, ração de cachorro (em pequenas quantidades), ovos cozidos com casca, insetos (tenébrios, minhocas...), etc. Apesar de apresentar a menor porcentagem na dieta alimentar recomendada, esse é um dos itens mais importantes, em filhotes a falta desses itens podem causar má formação do esqueleto, que por conseqüência, má formação do casco e como resultado, dores para o resto da vida do animal, problemas de locomoção, entre outros. Esse estilo de alimentação desempenha papel muito importante na dispersão de sementes, principalmente para a região Amazônica. Habitam regiões desde o Nordeste brasileiro, Centro-oeste, Sudeste e Sul (em menor ocorrência) até em outros países sul americanos como Colômbia, Venezuela, Guianas, Trinidad e Tobago, Equador, Suriname, Peru e Bolívia, onde vivem em ambientes de florestas tropicais ombrófilas (pluvial tropical) densas ou florestas decíduas, ocorrendo com maior frequência na floresta amazônica tropical úmida, porém é encontrado também em campos e caatingas em frequências muito menores. No Brasil ocorre nos Estados do Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Pará, Maranhão, Bahia, Amapá, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Se estima que essa espécie ocupe uma extensão de terras brasileiras próximo de 6.755.156,44 km², com densidades populacionais que variam de 0,2 a 0,5 animais por hectare. Os machos de Jabuti Tinga são em geral maiores do que as fêmeas e a partir dos 5 anos de idade já podem ser diferenciados das fêmeas, onde o plastrão (parte inferior do casco) é côncavo (voltado para dentro) e nas fêmeas é plano ou bem pouco convexo. Entretanto atingem a maturidade sexual apenas aos 6 a 8 anos para os machos e 12 a 15 anos para as fêmeas que com essa idade possuem cerca de 25 centímetros de comprimento retilíneo de carapaça. Em idades inferiores aos 5 anos de idade, os machos ainda não apresentam a concavidade, sendo comumente confundidos com fêmeas. Essa espécie consegue ultrapassar os 100 anos de idade, desde de que possuam as mínimas condições de manutenção. Sua carapaça é uma estrutura óssea formada pelas vértebras do tórax e pelas costelas revestidas com placas córneas que funcionam como uma caixa protetora onde o animal se recolhe quando é perturbado. A cópula ocorre durante os meses de junho a agosto, seguido das posturas que costumam variar de 2 a 4 e ocorrem entre agosto a fevereiro. A postura dos ovos ocorre geralmente na terra, onde a fêmea cava um buraco e pões de 3 a 20 ovos (quanto maior a fêmea mais ovos ela consegue desovar) e depois os enterra. Os ovos tem uma casca frágil e são de formato esférico ligeiramente oblongos com cerca de 4,3 x 4,0 centímetros a até 6,0 x 4,4 centímetros. O tamanho dos ovos aumenta também conforme o tamanho das fêmeas. A incubação dura de 24 a 36 semanas (4 á 9 meses) a temperaturas entre 28 a 29°C e necessitam de alto grau de umidade, normalmente nascem de 6 jabutizinhos. Os machos se identificam entre si mediante um movimento de cabeça característico. Se não obtêm retorno do movimento similar de cabeça do outro, indica que a outra jabuti é uma fêmea. Em seguida o odor da região cloacal da fêmea é verificada, para então, logo a seguir, iniciar a tentativa de cópula. O macho começa a perseguir a fêmea cortejando-a com leves pancadas de carapaça e mordidas nas patas, em seguida o macho monta em cima da fêmea e começa a emitir sons similares a cacarejos. Quando existem vários machos no mesmo recinto, eles poderão se enfrentar para disputar o direito de se acasalar com as fêmeas. Essas disputas podem ir desde apenas leves pancadas e mordidas a até virar o adversário de pernas para o ar, culminando na morte. Os jabutis não defendem o território, apenas lutam pelo direito de acasalamento. Essa tendência levou a favorecer os machos maiores no processo evolutivo, pois eles tendem a vencer mais batalhas e a deixar mais descendentes. A História evolutiva do gênero Chelonoidis inicia-se com uma espécie de origem africana, a qual os estudos genéticos apontam como parentes mais próximos dos Chelonoidis, as Tartarugas terrestres do gênero Kinixys. Elas teriam cruzado o Oceano Atlântico jovem, que era menor naquela época, há aproximadamente 40 milhões de anos atrás, devido a sua capacidade de flutuar, resistir à água salgada e ficar sem comida por longos períodos de tempo. Acredita-se que alguns animais podem ter saído do litoral do Congo e vindo juntamente com a corrente marítima oceânica parar nas costa do nordeste brasileiro. Esses animais tiveram que se adaptar ao meio, dando origem ao "Chelonoidis ancestor", que ao iniciar a conquista do novo continente, se dividiu em algumas espécies, umas foram para o norte e outras para o sul da América do sul, durante o Oligoceno entre 38 e 22,5 milhões de anos atrás (Auffenberg 1971, Caccone et al 1999, Le et al 2006 e Fritz & Bininda-Emonds 2007). Formando então os dois grandes grupos atualmente existentes, o grupo carbonaria e o grupo chilensis: o Grupo Carbonaria é representado pela chelonoidis hesterna, que viveu há cerca de 5 milhões de anos atrás na região amazônica. Essa espécie se adaptou a ambientes de florestas densas originando os atuais Jabutis tinga e se adaptou a ambientes de campos e cerrados dando origem aos atuais Jabutis pirangas. O Grupo Chilensis é representado pela Chelonidis gringorum que migrou para a Patagônia Argentina há 20 milhões de anos atrás dando origem as atuais Tartarugas do Chaco (Chelonoidis chilensis), um dos descendentes do Chelonidis gringorum, migrou para o norte entre 12 a 6 milhões de anos atrás, chegando as Ilhas Galápagos entre 5,0 a 1,8 milhões de anos atrás, dando origem as atuais Tartarugas Gigantes de Galápagos (Chelonoidis nigra), os ancestrais das Tartarugas Gigantes de Galápagos se extinguiram do continente há cerca de 10 mil anos atrás (Caccone et al 1999 e Auffenberg 1971). Dados do Quelônio: Nome: Jabuti Tinga Nome comum: Jabuti Tinga, Jabuti, Jabuti amarelo, Jabuti açu, Yellow-footed tortoise, Brazilian giant tortoise, Morrocoy, Morrocoyo, Morroco, Morrocoy patamarilla, Motelo, Wayapopi harra. Nome Científico: Chelonoidis denticulata, Chelonoidis denticulatus Época: Holoceno Local onde Vive: América do Sul Peso: Cerca de 60 quilos Tamanho: 1,10 metros de comprimento Alimentação: Onívora Classificação Científica: Filo Chordata Classe Reptilia Ordem Chelonia Subordem Cryptodira Família Testudinidae Gênero: Chelonoidis Espécie: Chelonoidis denticulatus, (Linnaeus, 1766) Sinônimos: - Testudo denticulata Linnaeus, 1766. - Testudo tabulata Walbaum, 1782(nomen illegitimum). - Testudo tessellata Schneider, 1792. - Testudo tabulata Schoepff, 1793. - Testudo terrestris americana Schweigger, 1812. - Testudo terrestris brasiliensis Schweigger, 1812. - Testudo terrestris var. cayennensis Schweigger, 1812. - Testudo terrestris surinamensis Schweigger, 1812. - Chersine denticulata Merrem, 1820. - Chersine tessellata Merrem, 1820. - Testudo cagado Spix, 1824. - Testudo hercules Spix, 1824. - Testudo sculpta Spix, 1824. - Chersine tabulata Gravenhorst, 1829. - Testudo planata Gmelin, 1831 (nomen nudum). - Testudo foveolata Schinz, 1833 (nomen nudum). - Geochelone (Chelonoidis) tabulata Fitzinger, 1835. - Geochelone (Geochelone) denticulata Fitzinger, 1835. - Chelonoides tabulata Agassiz, 1857. - Chelonoidis tabulata Agassiz, 1857. - Chelonoidis denticulata Fróes, 1957. - Chelonoides denticulata Obst, 1980. - Geochelone denticulta Richard, 1999. - Chelonoidis denticulatus Olson & David, 2014. Referências: - Alderton, David. Turtles and Tortoises of the World. New York: Facts on File Publications,1988. - Castaño-Mora, O.V. & Lugo-Rugeles, M. 1981. Estudio comparativo del comportamiento de dos especies de morrocoy: Geochelone carbonaria y Geochelone denticulata y aspectos comparables de su morfologia externa. Cespedesia, 10(37-38): 55-122. - Castaño Mora, O.V. (1985) "Notas adicionales sobre la reproducción y el crecimiento de los morrocoyes ( Geochelona carbonaria y G. denticulata , Testudines, Testidinidae)"; Lozanía (52): 1-5. - Ferreira Júnior, P.D. 2009. Aspectos Ecológicos da Determinação Sexual em Tartarugas. Acta Amazônica, 39(1): 139-154. - Franco, F.L.; Sugliano, G.O.S.; Porto, M. & Marques, O.A.V. 1998. Répteis na Estação Veracruz (Porto Seguro, Bahia). Veracel Celulose. - Hagan, J.W. "What's the Difference: Differentiating Geochelone denticulata and Geochelone carbonaria Tortuga Gazette 1989. - Iverson, J.B. 1992. 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